Palavras chave: corpo fragmentado, desordem, fotografia.
Jéssica da Rosa Pinheiro
A
experiência descrita no presente trabalho teve como objetivo entender o corpo
como fragmento, como se relaciona como bloco ou pedaço, como uma coisa
modelável e com desordem. Penso na premissa que, o tecido visual da
fotografia sempre pôde ser transformado pela imagem sensível de uma pele ou um
membro corporal com texturizações visuais, físicas e palpáveis.
A
versatilidade das imagens expostas pela lente da câmera implica uma
reapropriação de dispositivos e enunciações cujo movimento desloca a
própria condição corpórea, embora a fotografia apreenda apenas um instante, é
possível investigar variáveis que antecipam e prolongam o deslocamento do
corpo. A aproximação da lente da câmera com o
próprio objeto-corpo que é o utensilio de estudo, permite que o enquadramento
proporcione transdeformações corporais na captura da imagem. Do corpo a
fotografia (ou vice-versa), há um valor significativo de desordem.
Na representação fotográfica do corpo, o que me instiga não seria o
corpo em si, mas sua expressão visual viva, sua condição adaptativa de
desmaterializar-se. Aqui o que vale é o resultado da imagem corporal e não,
diretamente, o corpo em si. Por isso, trabalho uma imagem aproximada pela
câmara, que aponta dúvida, incerteza, imprecisão e desordem. Assim, tento acoplar
os traços dessa superfície disforme, em um ambiente de negociação do corpo com
a imagem fotográfica, tecnicamente tratada. Há aí não mais um objeto tomado em
si mesmo, mas uma referencialidade própria de proposição e a trama visual, em
que o conjunto de elementos desprendidos da forma material determina percepção
e imaginação por parte de artista e observador. É uma possibilidade de
composição do corpo na fotografia, onde o que se vê são pedaços ou blocos,
dispostos lado a lado.
O corpo se converte então em material de trabalho submetido a
experimentações diversas, o corpo como suporte de uma ideia, fator que o coloca
na situação de algo externo e manipulável. Expõe-se um conjunto
de fotografias, associadas à imagem do corpo fragmentado e essa transposição
ocupa estrategicamente uma sensação de desordem.
Ao retratar um corpo fragmentado é criada uma nova posição e perspectiva,
o fato de haver na montagem das fotografias espaços vazios obriga o observador
a utilizar a imaginação criando linhas e formas de ligação das fotos.
Tem-se como
referência o trabalho de Hannah Villiger que utiliza o corpo despido, fotografado
com uma câmera Polaroid, um processo que permite que a imagem apareça no momento - e depois
ampliada, apresentadas individualmente ou organizadas em uma composição
complexa e rítmica (o que se chama de bloco).
Tendo a desordem como elemento norteador da investigação que se focou na
tentativa de desvelar e articular uma poética pessoal a partir das experiências
registradas no meu corpo.
A desordem se cria no corpo
(Y)
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