quinta-feira, 6 de março de 2014

A DESORDEM SE CRIA NO CORPO


Palavras chave: corpo fragmentado, desordem, fotografia. 
                                                                                             Jéssica da Rosa Pinheiro

A experiência descrita no presente trabalho teve como objetivo entender o corpo como fragmento, como se relaciona como bloco ou pedaço, como uma coisa modelável e com desordem. Penso na premissa que, o tecido visual da fotografia sempre pôde ser transformado pela imagem sensível de uma pele ou um membro corporal com texturizações visuais, físicas e palpáveis.
A versatilidade das imagens expostas pela lente da câmera implica uma reapropriação de dispositivos e enunciações  cujo movimento desloca a própria condição corpórea, embora a fotografia apreenda apenas um instante, é possível investigar variáveis que antecipam e prolongam o deslocamento do corpo. A aproximação da lente da câmera com o próprio objeto-corpo que é o utensilio de estudo, permite que o enquadramento proporcione transdeformações corporais na captura da imagem. Do corpo a fotografia (ou vice-versa), há um valor significativo de desordem.
Na representação fotográfica do corpo, o que me instiga não seria o corpo em si, mas sua expressão visual viva, sua condição adaptativa de desmaterializar-se. Aqui o que vale é o resultado da imagem corporal e não, diretamente, o corpo em si. Por isso, trabalho uma imagem aproximada pela câmara, que aponta dúvida, incerteza, imprecisão e desordem. Assim, tento acoplar os traços dessa superfície disforme, em um ambiente de negociação do corpo com a imagem fotográfica, tecnicamente tratada. Há aí não mais um objeto tomado em si mesmo, mas uma referencialidade própria de proposição e a trama visual, em que o conjunto de elementos desprendidos da forma material determina percepção e imaginação por parte de artista e observador. É uma possibilidade de composição do corpo na fotografia, onde o que se vê são pedaços ou blocos, dispostos lado a lado.
O corpo se converte então em material de trabalho submetido a experimentações diversas, o corpo como suporte de uma ideia, fator que o coloca na situação de algo externo e manipulável. Expõe-se um conjunto de fotografias, associadas à imagem do corpo fragmentado e essa transposição ocupa estrategicamente uma sensação de desordem.
Ao retratar um corpo fragmentado é criada uma nova posição e perspectiva, o fato de haver na montagem das fotografias espaços vazios obriga o observador a utilizar a imaginação criando linhas e formas de ligação das fotos. 
Tem-se como referência o trabalho de Hannah Villiger que utiliza o corpo despido, fotografado com uma câmera Polaroid, um processo que permite que a imagem apareça no momento - e depois ampliada, apresentadas individualmente ou organizadas em uma composição complexa e rítmica (o que se chama de bloco).
 Tendo a desordem como elemento norteador da investigação que se focou na tentativa de desvelar e articular uma poética pessoal a partir das experiências registradas no meu corpo.




A desordem se cria no corpo







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